quinta-feira, 26 de junho de 2008

Teoria da Inversão

Na dor, qualquer tentativa de explicação parece engodo. Quando se trata da defesa cristã a respeito disso, piora um pouco, pois parece uma desculpa falsa, esfarrapada e mal articulada.
Por alguns dias eu tentei buscar a resposta pra'quela avalanche de acontecimentos, contínuos e castigantes que pareciam querer me engolir. Até eu compreender que não estava no "porquê" o meu alívio, mas em repousar nos braços invisíveis do meu Senhor, custou-me um pouco.
Meu propósito, afinal, é descrever a vida de uma mente bipolar que vai além dos medicamentos e encontra no poder vivificador do Espírito Santo, o controle, mesmo que no último instante de uma explosão de raiva durante uma crise maníaca, encontra forças pra sair da cama num episódio depressivo, e um resquício de lucidez nos momentos de euforia ou irritabilidade.
Nós que temos este tipo de patologia, não sofremos a dor necessariamente, no sentido fisiológico, mas sentimos os danos que ela causa em nossos relacionamentos, na perda de identidade, ás vezes até nos bens materiais. Ela corrói em ritmos diferentes, mas não menos destrutivos, caso não seja tratada adequadamente. E mesmo com o tratamento, que não suprime os episódios mas apenas ameniza, estamos sujeitos á crises violentas.
Alguns bipolares fazem uso de psicoterapia, praticam esportes ou qualquer outro tipo de atividade que possa colaborar com a medicação e ajudá-los a ter melhor qualidade de vida!
Eu corro. E minhas corridas no calçadão da Av. Paraná ajudam.
Mas nos últimos meses, entendí que preciso de algo que as atividades físicas não dão, nem a psicoterapia, nem qualquer outro tipo de auxílio pode proporcionar. Entendi que apesar de minha mente estar doente, minha alma e meu espírito precisam estar curados e livres, por que eles sim são o verdadeiro pilar que não deixa meu corpo adoecer, mesmo sendo acometido por males.
Há algumas semanas, orei a Deus para que me enviasse alguém que pudesse me ajudar. Minha familia não é próxima e acredite, normalmente nos isolamos quando estamos envoltos em espectros bipolares, como era o meu caso nestes dias. Ele amorosamente enviou!
Meus caros, é óbvio que as respostas do Senhor não são sempre rápidas assim e ás vezes elas nem vem do jeito que queremos recebê-las! Mas é certo que se houver disposição, Ele nos ensina a lidar com as dores, no que sou sinceramente agradecida por elas, pois foi assim que aprendi a olhar pra Ele.
Deus trabalha em mim diferente do resto do mundo, mas o que me permite compartilhar minha experiência é que em essência, somos iguais e estamos no mesmo ato de redenção.
Não me sinto vítima do acaso, muito menos castigada por um deus severo mas sou prova real da Teoria da Inversão! Que eu explico outra hora...hehehehe

terça-feira, 24 de junho de 2008

Post Mortem.

Os dias 2 tiveram gosto amargo desde então. Quer saber se eu surtei ? Pela graça de Deus, não.
Retirei o corpo do hospital. Organizei o funeral. Chorei. Quis morrer junto. Sentí raiva. E as horas se encheram de um vazio inexplicável.
Voltei ao trabalho na semana seguinte, bem. Surpreendentemente bem, contrariando as expectativas de quem esperava me ver internada desta vez. Não quis me afastar nem repousar. Decidí enfrentar a dor que pela primeira vez não era exagero da minha mente e eu a estava degustando insípida, clara como água cristalina.
Antes mesmo da sua morte, já havíamos conhecido á Jesus. Eu e ele fomos á uma igreja evangélica e encontramos sossego pra nossas almas. Mas eu precisei seguir só.
Não há como descrever ao certo uma sensação de perda como esta. Só quem vive sabe como é.
O processo todo foi confuso. Eu tentava suportar a dor , enquanto "me" cuidava pra não deixar escapar nenhum indício de episódio saltitante encilhado em neurotransmissores no meu cérebro. Sem esquecer de uma criança de 8 anos e todas as suas peculiaridades.
Mente, espírito e corpo nunca estiveram tão alinhados na minha vida! Nunca estiveram tão concentrados num único objetivo: manter a sanidade.
Foram 4 meses já. Foram 4 meses de muita luta interna. 4 meses mudando o foco. 4 meses tentando conhecer um Deus que mesmo sem explicar o porque de tanta dor, me fez entender que a dor é uma dádiva e que sem ela eu não teria nenhum senso de auto-preservação!
Eu comecei uma caminhada para a cura.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

De regresso...

Bah, demorei pra voltar aqui! Não sei nem como não deletei o endereço, certa que nunca mais teria paciência pra escrever neste trem. Mas só foi despontar um episódio hipomaníaco, daqueles que teoricamente não ferem os direitos de sossego do meu próximo nem me mandam pra um manicômio, que meus dedos formigaram em direção ao teclado. E pensar que faz quase um ano! Bom se tudo que foi interrompido, pudesse ser retomado assim, em alguns cliques.

Sem mais delongas minha gente, vou contar meus passos, cambaleantes eu diria, desde o first day em 2007.

Como eu previa não foi difícil aceitar e entender a doença. Mas ela causou um estraaaaago, assim mesmo, com vários a's no meu relacionamento amoroso, familiar e social. O diagnóstico acalmou os ânimos de alguns, que por fim entenderam por que a Keila era assim, desesperou a outros, minha mãe por exemplo, deixou a maioria incrédula, suspeita e meteu medo nuns cabras que aliás, faz tempo que eu não vejo !
Uns 3 meses sofridos. Sofridos mesmo. Pra todo mundo! Desenvolvi anorexia. Deixei meu sócio enlouquecido. Minha filha aos prantos, até novos amanheceres que trariam a promessa de dias melhores.
Voltei às atividades normais e percebi que não eram mais normais pra mim. Quer dizer, eu nunca fui normal. Não dentro da normalidade esperada pelos outros. Mas foi diferente. Desesperador talvez. Eu me encontrei lúcida, morrendo de medo do que havia dentro de mim. Me identifiquei com os AA's : " Só hoje Senhor! Me ajude a vencer só hoje."
Aí começou uma luta solitária e desenfreada pra me ajeitar dentro das reações adversas da medicação e tentar me conhecer, aprender a desengatilhar as armas que me faziam entrar em episódios dilacerantes com ciclagens que deixavam meu médico inquieto.
Recompuz, aos trancos e barrancos e com a ajuda de muita gente, meu cotididiano profissional enquanto perdia o grande amor da minha vida, meu marido, que havia me segurado em casa em crises que só eu e ele conhecemos, que havia amado uma louca bipolar enquanto o mundo inteiro oferecia coisas bem mais atraentes por aí. Escorreu pelos dedos. Perdemos o contato até a sua internação no dia 29 de janeiro, uma terça-feira, de 2008. O último "amo você". Dito com sofreguidão, sinceridade e uma vontade enorme de voltarmos atrás e fazermos tudo diferente.
Ele faleceu na madrugada do sábado, 02 de fevereiro, 4 dias depois do internamento, vítima de Miocardiopatia.
Reticências falariam mais do que qualquer palavra agora.

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