A Renascença colocou o homem no centro do universo. Você lembra disso? O Iluminismo tornou o homem independente, “iluminado” , e também o desorientou.
No que resultou isso, foram as novas e inspiradoras ofertas de orientação para a vida, as quais, dizem o que devemos fazer para evitar medos (seguro de vida, cercas elétricas), incertezas e insuficiência ( cirurgias plásticas e aquisições inúteis), além de outras coisas, elas oferecem a receita da felicidade plena, “ aqui e agora”, na “ terra”.
Quando o Iluminismo tornou o homem auto-suficiente, acabamos por criar deuses dentro de nós, consequentemente, um mundo terreno onde a harmonia, a ordem, a paz e a felicidade podem ser alcançadas , entretanto ficamos desprotegidos, pois, este mundo que criamos se transformou, e sempre continuará o processo de mudanças.
Aí entra a força da fantasia dos pregadores da auto-ajuda, com a insolência inabalável de seus posicionamentos e pelo seu discurso atrativo, que acabam por sugestionar as pessoas na direção de um ideal soberbo pelo ânimo provocado. A imaginação fica ativa, o estado de espírito é outro, raciocínio excitado, criativo e então as dúvidas desaparecem, o sentimento que surge é de prazer e determinação, sem dúvidas as pessoas ficam cheias de avidez , procuram alcançar suas metas – que um dia antes escreveram num caderninho qualquer – e esquecem que vivem num coletivo, que não é só , e que sim, existem percalços no caminho e centenas de outras pessoas ao seu redor que de alguma forma, irão influenciar na conquista de seus objetivos.
Isto é o Discurso da Auto-Ajuda, com milhares de livros vendidos, gurus e imagens com pessoas sorridentes exibindo suas conquistas como se enfim, tivessem saído da crise de identidade em que se encontra a humanidade. Se estou sendo negativista? Não, meu intuito com este texto é despertar as mentes para um discurso mentiroso – a Ilusão no discurso da auto-ajuda – de grandes habilidades persuasivas e sedutoras.
Os autores destes livros afirmam, sem hesitar, que através da leitura, “ aprenderá a usar os meios infalíveis e fáceis para chegar lá. Você vai aprender [diz o autor] a usar o poder infinito de sua mente, poder este que lhe alcançará tudo aquilo que você deseja”.
Lembra de O Segredo? Ele até sugeria colar um cheque preenchido com a quantia desejada atrás da porta, e sim, prometia que o valor viria até você. Apenas com a força do pensamento! Do teu pensamento! Perdoem-me os adoradores de O Segredo, mas vocês conseguiram enriquecer só os editores e a escritora dele.
A auto-ajuda vende ilusões, não esclarece nada, porque não se aprofunda, seduz, te empurra para um jogo de aparências, usa palavras bem escolhidas, fórmulas chocantes, frases bem equilibradas, sorrisos aliciadores, banalizam os problemas – daí minha maior indignação – sem provocar descontentamento em nenhum leitor. Afinal de contas, quem quer ler sobre dúvidas, dificuldades neste mundo tão desprovido de segurança e certezas de “ quem sou eu “.
Estes autores são especialistas em escrever frases maravilhosas, fascinantes e repetitivas, dizendo somente aquilo que os homens precisam e desejam ouvir.
De alguma forma a auto-ajuda ligou a felicidade ao consumo. Ou seja, você será feliz quando tiver em tuas mãos o objeto do teu desejo.
Sobre tudo o que escrevi neste texto está ligado á um mundo terreno , onde tudo acaba, morre, se desintegra. Mas e se não for assim, e se houver um depois, um “post mortem”, e se felicidade plena, não é só “ aqui e agora”, na “ terra” ?
Você já pensou nisso?