quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Minha felicidade tem preço !

O real esvaziou-se de importância: não interessa se você tem dinheiro, cultura, sucesso. Interessa, isso sim, se aparenta ter. Cada vez mais gente leiloa a individualidade pela aprovação dos outros e se torna um clone fajuto de seres pré-aprovados pela platéia ou uma versão mentirosamente melhorada de si mesmo: por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento. Não vejo problema algum em acertar um nariz torto, levantar peitos caídos. O que me amedronta é essa insanidade que leva a um tipo inédito e estúpido de mutilação, a mutilação pró-fama. O que são dores, anestesia, o período angustiante de recuperação perante a cara de espanto dos amigos, o despeito das amigas, os futuros flashes? Nem para os índios na época do descobrimento o espelho era tão fascinante. Eles trocavam um ouro para ter um pedaço de si refletido. Hoje em dia, troca-se de rosto, de corpo, por elogios, muitas vezes fajutos.

Jamais fomos tão carentes de aceitação. Nunca fomos tão egocêntricos.

As débeis que vendem até a alma para ter a bocona da Angelina Jolie ou a cintura da Halle Barry deveriam saber que a primeira se divorciou porque o marido transava até com a fruteira, e a segunda vive sozinha porque não controla o próprio ciúme. Ter dimensões e formas idealizadas não livra ninguém da infelicidade—apenas o transforma num infeliz bonito na foto.


Por favor gente, cuidar só da carcaça não. Isso faz parecer que você é feliz demais. E isso não engana por muito tempo.

Um comentário:

Unknown disse...

Bravo!
(aplausos)
Até que enfim voltou a escrever... Eu já estava com saudade.
E pelo jeito, voltou "com tudo em cima", assim como várias outras celebridades que fizeram promessa de transformar seu visual em 2010.
Um grande abraço e boas obras neste ano de 2010 Srta Kei Conci.

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