quinta-feira, 29 de abril de 2010

A ilusão da igualdade

Todos que já passaram pelo ensino médio estudaram os ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade.

A liberdade existe conscientemente ou não; fomos criados com livre arbitrio sobre todas as coisas. Temos até a liberdade de se rebelar contra um regime, uma cultura, uma política, sem esquecer do custo que ela tem, obviamente.

A fraternidade chega a ser uma lei moral, não do próprio ser humano, porque ao contrário dos antiteistas, acredito que apenas um legislador supremo poderia ser o causador dessa moral, portanto lutar por ela, para que ela subsista é quase um paradoxo. Fraternidade deve existir mesmo que não sejamos iguais. A Fraternidade pode e deve existir na desigualdade.

Então temos a liberdade, independente do regime político e podemos ser fraternos mesmo na desigualdade. E é aí que chegamos na ilusão da igualdade. Originalmente, durante os anos da Revolução Francesa, não se contemplava a idéia de que todos somos iguais, mas a de que nascemos com direitos iguais. No século XIX, essa idéia mudou, começou-se a crer na idéia de que todos somos iguais e, por causa disso em certa medida, todos merecemos materialmente as mesmas coisas.

Entretanto, contra esse raciocínio há um fato muito claro: as pessoas são diferentes. Existem homens e mulheres, pessoas com cabelo liso e ondulado, pessoas com talentos artísticos, esportivos e intelectuais. E isso é dado, tendo cada indivíduo de conviver e aproveitar suas características. Logo, é totalmente irracional qualquer indignação a afirmações do tipo “ ele pode, eu também posso “.

Além disso, tratar diferenças como aspectos negativos e esforçar-se para dirimi-las é falacioso. Sob o ponto de vista da eficiência econômica, por exemplo, a igualdade é péssima. Em um mundo onde todos têm a mesma produtividade, não existem incentivos a trocar ou a dividir trabalho, atos que historicamente permitiram um aumento brutal na produção agregada da humanidade.

Por fim, é importante mostrar como a igualdade de direitos e a igualdade material são objetivos contraditórios. Meus direitos são os mesmos do meu vizinho, mas meu salário é diferente do dele! Suponhamos que o Estado se incumba de igualar materialmente todos seus cidadãos. Para tanto, ele deverá tomar de alguns e repassar a outros. Percebe-se que nesse caso o “grande irmão” deixa de tratar todos seus cidadãos imparcial e igualitariamente.

As promessas políticas , grandes campanhas de marketing, visando um final feliz para a humanidade, onde haverá paz e total ordem monetária, é ilusão.

Inúmeros livros de auto-ajuda vendem milhões de exemplares sugerindo respostas : “ você tem o poder “ , “ como influenciar pessoas e conseguir delas o que você quiser” , e tantas outras promessas. Tudo em nome da igualdade; em nome de você ser igual àquela pessoa de sucesso que aparece na TV.

Só existe uma esfera em que todos somos iguais e nela, de acordo com nossas ações iremos receber o prêmio. A Terra não é o fim em si mesma. Existe um lugar onde não seremos medidos pelos bens que possuímos ou da família que descendemos. E isso é onde podemos chegar mais próximo do significado de igualdade.

Casamentos arranjados !

O romance foi capitalizado. Grande parte do nosso PIB depende dele. Nas artes, ele domina: tente encontrar uma canção que não trate do amor. Na área editorial, os romances góticos vendem mais que qualquer outra obra. Sem esquecer das novelas ou comédias ; existe algum sem um romance ardente no enredo? A moda, as jóias e cosméticos nos tentam aperfeiçoar as técnicas de atração entre homens e mulheres. Tudo para que encontremos, persigamos e conquistemos o amor ideal; aquele com final feliz.

Por mais comum e notório que isso seja, ainda existem casamentos feitos entre homens e mulheres que jamais sentiram qualquer pontada de amor romântico, como os adolescente em grande parte da África e Ásia que tem como certa, a noção de casamentos arranjados pelos pais e não todo esse enredo de conquista e paixão como nós.

Nas culturas ocidentais as pessoas se casam porque sentem atração pelas qualidades agradáveis do outro: sorriso aberto, espirituosidade, aparência bonita, habilidade atlética, bom humor, charme. Com o passar do tempo, estas qualidades se alteram. Especialmente os atributos físicos irão deteriorar–se com a idade. Enquanto isso, podem aparecer surpresas: desleixo no cuidado com a casa, tendência à depressão, problemas sexuais.

Ao contrário de tudo isso, os companheiros em um casamento arranjado não baseiam o relacionamento na atração mútua. Ao ser informada da decisão dos pais, a pessoa aceita que viverá muitos anos com alguém a quem mal conhece. Assim, a questão deixa de ser "Com quem me devo casar?" e passa para "Que tipo de casamento eu e este meu companheiro construiremos?"

Não estou sugerindo que o modo arranjado seja o correto ou errado, mas acredito mesmo que a idéia de romance ocidental é muito fraca para constituir estabilidade familiar. Pensando nisso, comecei a ver como o “ espírito dos casamentos arranjados” poderia transformar outras atitudes em nossas vidas., inclusive na forma como as pessoas se relacionam com Deus ( ou para quem não é cristão, com seu deus ).

Algumas pessoas aproximam–se da fé basicamente como uma solução para seus problemas, e escolhem Deus assim como escolhem o cônjuge, procurando as qualidades agradáveis. Sua expectativa é a de que Deus sempre lhes trará dias bons. Dão o dízimo porque receberão de volta dez vezes mais. Tentam levar uma vida reta porque acreditam que Ele lhes dará prosperidade. Interpretam a frase "Jesus é a resposta" em seu sentido mais literal e inclusivo: a resposta para o desemprego, um filho com problemas mentais, um casamento em ruínas, uma perna amputada, um rosto feio etc. Contam como certo que Deus interferirá em seu favor; providenciando um emprego; curando o filho, a perna e o rosto feio e colando de volta os pedaços do casamento partido.Somos como artistas que receberam a incumbência de construir nossa vida, a partir de uma massa sem forma de matéria–prima. Uns são feios, outros bonitos. Há os brilhantes, os profundos, os charmosos e os envergonhados. Deus não promete resolver todos os nossos "problemas", pelo menos não como gostaríamos de que fossem solucionados. Pelo contrário: chama–nos para confiar nEle, e para permanecer fieis, quer sejamos brasileiros ricos ou sudaneses aprisionados. Sobre este aspecto, precisamos do "espírito dos casamentos arranjados" em nosso relacionamento com Deus. Ele me criou como sou: com meus traços fisionômicos particulares, minhas dificuldades e limitações, meu corpo, minha capacidade mental. Posso passar toda a vida ressentido com uma característica ou outra, e pedindo a Deus que mude minha "matéria–prima". Ou posso aceitar–me como sou, humildemente, com as falhas e tudo mais, como a matéria–prima com a qual Deus pode trabalhar.

Não faço uma lista de exigências que precisam ser atendidas para que eu aceite firmar um compromisso. Como a mulher de um casamento arranjado, comprometo–me, apesar do que acontecerá no futuro, sem ter certeza do que está por vir. E felizmente o casamento arranjado funciona nos dois sentidos : o marido também firma compromisso, assim como Deus que me aceita não com base em meu desempenho, mas porque Ele tem um compromisso comigo.

Minha lista de blogs